Transfusão de sangue com segurança
Este é um assunto bastante sério e fundamental para a saúde e qualidade de vida da pessoa com talassemia. Por isso, é muito importante conhecer quais os principais itens de segurança para que não aconteçam problemas no momento da transfusão de sangue.
Fenotipagem Eritrocitária
Saiba porque é importante fazer o exame para detectar o fenotipo
Foi no final do século 19 que o imunologista austríaco Karl Landsteiner descobriu o primeiro e mais importante sistema de grupo sanguíneo existente no organismo, o ABO.
Outro fato que revolucionou a medicina transfusional foi a identificação do fator Rh. Na população branca, cerca de 85% das pessoas possuem este fator nas hemácias, sendo por isso chamadas de Rh+ (positivo). Já os 15% restantes que não possuem este fator são chamados de Rh- (negativo).
Com isso, temos os tipos sanguíneos: A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+, O-.
No sistema Rh existem diversos tipos de antígenos, mas os mais conhecidos são o D, C, c, E, e, Cw, V, Vs. Também existe o sistema Kell, que contém os antígenos K, k, Kpa, Kpb, e o sistema Duffy, com os antígenos Fya, Fyb, Fyx, dentre os outros.
Sangue fenotipado é mais seguro!
Pessoas com doenças que requerem transfusões periódicas podem desenvolver anticorpos contra estes antígenos, o que pode ser bastante prejudicial. E é por isso que a fenotipagem eritrocitária – tipagem sanguínea mais completa – deve ser realizada. Assim, a pessoa recebe o sangue mais compatível possível.
É fundamental que os fenótipos sejam determinados antes mesmo da transfusão, mas no Brasil não é incomum que as pessoas com talassemia cheguem aos serviços de referência após já terem recebido o sangue, o que impossibilita descobrir qual a fenotipagem correta porque o sangue recebido atrapalha esta avaliação. Para resolver este problema, existe o exame chamado genotipagem eritrocitária, que estuda os subtipos do sangue por técnica de biologia molecular (análise do material genético do paciente).
Efeitos colaterais de transfusão errada
A transfusão de sangue pode promover reações como febre, dor lombar, náuseas e vômitos, coceira, queda de pressão e problemas renais. A depender da gravidade da reação, a pessoa pode chegar à morte. Assim importante além da tipagem sanguínea e demais exames de compatibilidade deve-se utilizar concentrado de hemácias deleucocitados, ou seja, que tenham retirados os leucócitos da bolsa de sangue através de processos no laboratório (filtro deleucocitário). Existem ainda a necessidade de medicamentos anti-histamínicos que podem tratar ou prevenir as reações alérgicas. Eventualmente pode até utilizar uma técnica que modifica o concentrado retirando o plasma do concentrado de hemácias e substituindo por solução salina.
O registro adequado das transfusões podem nortear a melhor conduta quando a modificação de concentrado de hemácias e uso de medicações pré-transfusionais além de avaliar o rendimento transfusional.
Teste NAT
O Teste Nat (Teste de Ácido Nucleico) consegue encurtar o prazo de detecção dos vírus – a chamada janela imunológica – nas bolsas de sangue doadas, pois identifica o material genético do vírus e não os anticorpos.
O HIV, que até então era constatado apenas 22 dias após a contaminação, com o NAT é detectado a partir de 7 dias da contaminação do doador do sangue. Já a Hepatite C, antes constatada após 70 dias do contágio, agora é detectada em 11 dias.
Em 2014, o Ministério da Saúde do Brasil assinou portaria que tornou obrigatória a realização deste teste em todas as bolsas de sangue coletadas no país – atualmente são mais de 3 milhões coletas por ano.
Em 2016 tornou-se obrigatória a realização do teste NAT para hepatite B em bolsas de sangue coletadas no país, com o propósito de reduzir o intervalo de tempo da janela imunológica para 11-12 dias. Foram grandes avanços visando a qualidade dos hemocomponentes a serem transfundidos.
Sangue Filtrado
Por que se filtra o sangue?
Os glóbulos vermelhos, também chamados de hemácias, podem ser transfundidos após a retirada de aproximadamente 99,9% dos leucócitos (ou glóbulos brancos) do sangue, por meio de filtro específico. Existe o filtro para glóbulos vermelhos e o filtro para plaquetas. Assim, é possível prevenir reações transfusionais febris, retardar ou evitar a aloimunização (formação de anticorpos pelo paciente quando entra em contato com sangue não totalmente compatível), prevenir a transmissão de citomegalovírus e evitar imunossupressão (diminuição da imunidade) que pode ocorrer em quem transfunde. Geralmente, é usado em pacientes que fazem reações febris com a transfusão, candidatos a transplante de rim e de medula óssea e hemoglobinopatias (talassemia, anemia falciforme).
Sangue Lavado
Por quê lavar os glóbulos vermelhos?
Os glóbulos vermelhos podem ser lavados com soro fisiológico estéril, utilizando-se máquinas especialmente destinadas para esse fim. Esse procedimento remove quase todo o plasma, reduz a concentração de leucócitos e remove plaquetas e restos celulares. Está indicado no caso de reação alérgica moderada a grave nas transfusões de concentrado de hemácias.
Sangue Irradiado
A transfusão de concentrado de hemácias irradiadas ou de concentrado de plaquetas irradiadas é realizada para prevenir a doença do enxerto versus hospedeiro transfusional, causada pelo não reconhecimento, por parte do organismo do paciente, dos linfócitos do doador. Neste procedimento, há a destruição de todos os linfócitos na bolsa de sangue. Para isso, ela será submetida a chamada irradiação gama. Este procedimento evitará sérios problemas, como febre e até disfunção hepática. Está indicado na transfusão intrauterina, nos recém-nascidos prematuros, nos pacientes que fizeram transplante de medula óssea.
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