Notícias

Como a nova decisão do STF pode influenciar no fornecimento de medicamentos ao paciente? Saiba mais

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem como principal função garantir que as leis e decisões do governo estejam de acordo com a Constituição, que é o conjunto de regras mais importantes do país. Este órgão julga casos que envolvem os direitos e deveres de todos os brasileiros e também decide sobre conflitos entre diferentes poderes (como o Executivo, Legislativo e Judiciário) ou entre o governo e os cidadãos. Ele protege os direitos fundamentais e a democracia, sendo o último lugar onde questões jurídicas podem ser resolvidas.

Recentemente, o STF decidiu sobre como o governo deve lidar com o fornecimento de medicamentos que não estão incorporados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – esses medicamentos são aqueles que, apesar de terem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), ainda não foram oficialmente incluídos na lista de tratamentos oferecidos pelo SUS.

A decisão busca organizar o processo de quem pode ter acesso a essas terapêuticas e em quais condições e, ainda, quem paga a conta, se a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios e quanto. Mas apesar de buscar organizar e regulamentar o acesso aos medicamentos que não estão oficialmente incorporados pelo SUS, a decisão apresenta várias limitações e desafios que podem prejudicar o acesso dos pacientes ao tratamento.

Como o paciente pode ser afetado?

1. Barreiras científicas e probatórias para os pacientes

A decisão exige que o paciente, ou quem pleiteia o medicamento, apresente evidências científicas robustas para demonstrar a eficácia e a segurança do medicamento solicitado, mas para alguns contextos a exigência é inadequada. Em muitos casos, como os relacionados ao câncer e doenças raras, simplesmente não existem estudos amplos ou ensaios clínicos suficientes, já que a baixa prevalência dificulta a realização dessas pesquisas em grande escala. Isso coloca esses pacientes em uma posição de desvantagem, pois mesmo que o medicamento seja necessário e eficaz, ele pode não ter as evidências exigidas. Deve ser considerado também que reunir as provas necessárias, como laudos e estudos científicos, exige acesso a especialistas e recursos financeiros que muitos pacientes não possuem, gerando desigualdade no acesso ao judiciário.

2. Dependência excessiva das decisões administrativas, falta de flexibilidade e problemas estruturais na CONITEC

A decisão do STF de vincular as decisões judiciais aos pareceres da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC) limita a atuação do judiciário ao controle de legalidade, sem permitir que os juízes reavaliem as decisões com base nas necessidades dos pacientes, enfraquecendo seu papel em corrigir falhas do executivo.

Isso é especialmente problemático em casos de urgência ou omissão estatal, em que o judiciário deveria atuar como uma instância de recurso. Além disso, a falta de flexibilidade para lidar com erros ou atrasos da CONITEC, que muitas vezes é influenciada por pressões orçamentárias e políticas, restringe ainda mais o acesso dos pacientes a tratamentos.

A dependência excessiva da CONITEC, um órgão com problemas de transparência e controle social limitados, perpetua um sistema que não oferece mecanismos adequados para questionamentos ou participação ativa da sociedade. Embora o objetivo do STF seja organizar o fornecimento de medicamentos e garantir a sustentabilidade financeira do SUS, essa decisão apresenta sérias limitações para o acesso a tratamentos.

É fundamental que a sociedade, as associações de pacientes e os poderes executivo, judiciário e legislativo trabalhem juntos para ajustar esses critérios, assegurando acesso justo e adequado aos tratamentos conforme garante a Constituição.

Como garantir os direitos dos pacientes?

A Abrale e Abrasta consideram que para a continuidade da garantia de direitos e acesso equânime à saúde, é necessário que haja uma mudança no processo de avaliação de tecnologias. Precisa ter transparência e mecanismos de participação social efetivos. Embora os procedimentos para garantir uma maior sustentabilidade financeira ao sistema tenham aspectos positivos, é preciso considerar os problemas estruturais que impactam negativamente o sistema.

A saúde é um direito fundamental e deve ser acessível a todos, independentemente da complexidade ou raridade de suas condições. Enquanto sociedade civil vamos continuar trabalhando ativamente para que esse direito seja garantido em sua integralidade.

 

Katia Santos

Recent Posts

Reunião da ANS debate transparência, participação social e cancelamentos unilaterais de planos de saúde

Na 116ª Reunião Ordinária da Câmara de Saúde Suplementar (CAMSS), temas cruciais para o setor…

21 horas ago

Abrasta celebra o Dia Nacional do Hematologista e do Hemoterapeuta

No dia 29 de outubro, celebramos o Dia Nacional do Hematologista e do Hemoterapeuta. Um…

5 dias ago

Talassemia é pauta em debate na Câmara dos Deputados

Melhorias no acesso ao tratamento foram destaques durante encontro No dia 13 de setembro aconteceu…

4 semanas ago

Debatedores pedem melhorias no atendimento a pacientes com talassemia no SUS

Em audiência da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, nesta semana, representantes de pacientes…

1 mês ago

Criado Dia Nacional de Conscientização sobre as Doenças Crônicas

Expectativa é que a iniciativa estimule investimentos em campanhas educativas e programas de prevenção O…

4 meses ago

Nova lei cria o Dia Nacional do Hematologista e do Hemoterapeuta

Norma surgiu de projeto apresentado na Câmara dos Deputados O presidente Luiz Inácio Lula da…

4 meses ago

This website uses cookies.