Por Tatiane Mota
Falar sobre sangue filtrado e fenotipado para os portadores de talassemia pode até parecer um pouco óbvio, afinal estes são procedimentos bem importantes. Mas você sabe o porquê deve receber seu concentrado de hemácias com estas técnicas aplicadas? Explicamos aqui nesta matéria.
O termo filtrado refere-se ao processo de remoção de glóbulos brancos (células responsáveis por proteger o organismo de vírus, bactérias, dentre outros perigos) que ficam como resíduos nas bolsas de sangue. Outro nome utilizado é sangue leucodepletado, já que os glóbulos brancos também são chamados de leucócitos.
“A filtração é feita quando os concentrados de hemácias passam em um material descartável, chamado filtro de leucodepleção. Existem filtros com diferentes composições, mas basicamente eles possuem no seu interior fibras que retém os glóbulos brancos e deixam passar os vermelhos, também chamados de hemácias. A bolsa com o concentrado de hemácias é conectada nestes filtros e, por ação gravitacional, desce passando pelo filtro e saindo em uma outra bolsa, que chamamos por bolsa de transferência. Também existem filtros que são conectados diretamente na bolsa, para o paciente, e por isso são conhecidos por filtros de beira de leito. Mas quase não usamos esta opção, porque não permitem um controle de qualidade antes da transfusão”, explica o Dr. Giorgio Baldanzi, hematologista e membro do Comitê Médico da Abrasta.
Já a fenotipagem refere-se a uma testagem mais ampla dos vários grupos sanguíneos. Geralmente, as pessoas conhecem apenas os grupos ABO e RH positivo ou negativo, mas existem muitos outros que não são pesquisados nas transfusões de quem não transfunde seguidamente.
“Para sabermos qual o fenótipo sanguíneo adequado, precisamos de uma amostra com os glóbulos vermelhos do doador ou do paciente. Assim faremos uma análise, a partir do contato com antissoros, para ver se há alguma reação. Se reagir, dizemos que é positivo para um determinado antígeno. Se não, dizemos que é negativo”, diz o médico.
É importante lembrar que ambos os procedimentos são realizados nos bancos de sangue, sob rigorosas técnicas para que não haja nenhum tipo de contaminação.
Em diversos países, a filtragem do sangue é adotada para toda população. No Brasil, por conta de custos, somente alguns grupos recebem as transfusões com esta técnica aplicada.
“Estes filtros encarecem significativamente uma transfusão, então por isso a leucodepleção não está indicada para todos. Preconiza-se pacientes politransfundidos, recém-nascidos prematuros ou de baixo peso e pacientes com reações transfusionais febris de repetição”, explica o Dr. Giorgio.
O sangue fenotipado também deve estar disponível a todos os portadores de talassemia. Isso porque, para eles, é maior a chance de contato com algum glóbulo vermelho de um grupo sanguíneo diferente.
“Se isso acontece, o paciente passará a apresentar anticorpos contra este grupo sanguíneo. Então o ideal é que ele receba desde o início das transfusões somente bolsas fenotipadas. Agora, se por algum descuido já se formou estes anticorpos irregulares, será obrigatório fenotipar para identificar qual é este anticorpo e achar bolsas que não contenham os antígenos correspondentes”, comenta.
Caso o portador de talassemia não receba a bolsa de sangue fenotipada, o efeito da transfusão poderá durar menos tempo, obrigando-o a fazer um número maior de transfusões.
O processo de filtragem e fenotipagem do sangue é fundamental para garantir a qualidade do concentrado de hemácias, mas também a qualidade de vida do paciente.
Quando as técnicas não são aplicadas, é possível que algumas reações adversas possam surgir. Então, se o portador de talassemia receber um sangue sem a fenotipagem correta, é possível que apresente febre, pressão baixa, coceira pelo corpo, taquicardia e até mesmo uma urina mais escura. É necessário que a transfusão seja interrompida o quanto antes, para que seja aplicado em seguida o soro fisiológico.
Uma reação comum em quem faz transfusões de repetições, e que não recebem o sangue filtrado, é a febre não-hemolítica.
“O que desencadeia esta reação são anticorpos que o organismo produz quando entram glóbulos brancos na transfusão. Estes anticorpos acabam destruindo as células de defesa do corpo, liberando substâncias que causam febre, calafrios e muito mal-estar”, comenta o Dr. Giorgio.
Todas elas devem ser rotuladas com os dizeres leucodepletada ou filtrada, e também constar o termo fenotipada, idealmente incluindo quais grupos sanguíneos foram pesquisados e o resultado deles. Fique sempre atento a estas informações. Se tiver alguma dúvida, chame o responsável pela equipe de enfermagem.
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