Pais da Giovanna recorreram à fertilização in vitro para ter o Mateus.
Médico analisou a carga genética de cada embrião até encontrar o ideal.
Em 2015, o Jornal Nacional apresentou a menina Gigi, que na época tinha um ano. Ela precisava de um transplante pra curar uma doença grave. Desde então, nós acompanhamos a rotina da família dela.
A família Oliveira está diferente e mais feliz – não só porque ganhou mais um integrante, mas por tudo que ele trouxe.
Quando ainda eram apenas três, a Juliana, o Hugo e a Giovana apareceram no Jornal Nacional, há quase dois anos, numa série especial de reportagens sobre fertilização in vitro e a técnica de seleção de embriões. Eles já queriam ter mais um filho. E, se ele fosse 100% compatível geneticamente com a irmã, poderia salvar a vida dela. É que a Giovanna nasceu com o tipo mais grave de anemia falciforme, uma doença que afeta a circulação do sangue e pode levar à morte. O único jeito de curar a Gigi era com transplante de medula.
“Ainda se utiliza transplante com doador 100% compatível. De preferência inclusive familiar”, explica Nelson Hamerschlak, médico do Hospital Albert Einstein.
Só que esse doador ainda não existia. Os pais da Giovanna recorreram à fertilização in vitro com a técnica de seleção de embriões – o PGD. O médico analisou a carga genética de cada embrião até encontrar o ideal.
“Estaticamente a gente teria 18% de chance de gerar um bebezinho livre da doença, da condição especifica, e ao mesmo tempo que esse embrião fosse compatível”, conta o médico geneticista Ciro Martinhago.
“Hoje a reprodução assistida, as técnicas de fertilização in vitro servem não só pra tratar o casal infértil, mas justamente pra gente descobrir aquele embriãozinho que pode ser o doador”, afirma Edson Borges Junior, especialista em reprodução humana.
Deu certo. No fim do ano passado, a equipe do Jornal Nacional encontrou Juliana com um barrigão de oito meses de gravidez. A única coisa que ofuscava essa alegria era a saúde da Gigi: a cada 20 dias, ela precisava de nova transfusão de sangue. Mas sempre corajosa.
O irmão de Giovana ganhou um nome: Mateus.
Mateus chegou forte e, no cordão umbilical, trouxe as células-tronco que podem salvar a vida da irmã. Quatro meses depois, a família volta para o hospital. É o começo do fim da doença de Giovana.
A família da Gigi estava toda no quarto quando ela recebeu o que ela mesmo chamou de “fabriquinha de sangue” que foi doada pelo irmão.
Na bolsa, estão as células-tronco do cordão umbilical, capazes de formar um sangue novo para ela. O transplante acontece no quarto, com a família reunida.
“É o momento que representa a ligação eterna dos dois, né. O irmão salvando a irmã e eu sempre falo: faço isso todas as vezes e eu sempre me emociono a cada vez”, diz a hematologista Andrea Tieme Kondo.
A infusão foi só uma das etapas do processo. Também teve quimioterapia para matar as células doentes. Foram dias difíceis, que terminaram quando a fábrica nova de sangue começou a funcionar. Gigi está curada.
“A gente lutou até a gente conseguir. Com a ajuda de todo mundo que está aqui hoje a gente tornou isso possível”, comemorou Juliana, mãe da Gigi.
A festa no hospital é para celebrar a cura e para despedir de Gigi, que ficou mais de um mês internada. Saudade do irmão? “Eu vou pra casa com ele! Brincar no meu castelo com meu irmãozinho”, conta a menina.
Fonte: O Globo